
Aprendendo com Agar
“Ele deitou-se com Agar, e esta engravidou. Quando se viu grávida, começou a olhar com desprezo para a sua senhora”. (Gn 16.4, NVI)
Quando o orgulho mostra a sua face. A história dramática que envolve a tentativa de Sarai de “ajudar” o Senhor a cumprir sua promessa de dar uma numerosa descendência a Abrão, nos fornece variadas e ricas lições para nossa vida. Hoje vamos nos ater na mencionada passagem de Gênesis 16.4, momento em que após engravidar de Abrão, Agar passa a agir com desprezo para com a sua senhora Sarai.
Na região da antiga Mesopotâmia em que habitavam, era costume dos povos quando uma esposa era estéril permitir que sua serva tivesse filhos com seu esposo, estes filhos seriam considerados como se fossem os seus próprios. Tal costume se mostra novamente em diversas outras passagens (Gn 30.3.5; Gn 30.9.12; Gn 35.25-27).
Uma outra tradução da narrativa bíblica que estudamos hoje nos diz que “quando Agar viu que estava grávida, ficou arrogante e começou a tratar a sua senhora com desprezo” (Gn 16. 4, Nova Bíblia Viva – grifo nosso). Ou seja, aquilo que Sarai desejava mas não conseguia, ficar grávida, agora se materializava na vida de Agar: gerar um filho do seu senhor Abrão.
A atitude que passou a nortear o comportamento de Agar foi o de conseguir algo que outra mulher não conseguia, passou a se sentir superior, melhor que Sarai. O orgulho do interior do seu coração começou a ser manifestado em suas atitudes.
Os problemas que começaram a ser gerados foram tamanhos, tanto que Sarai pede a Abrão que intervenha para resolver a questão, mas ele diz que ela mesma deve resolver o problema (Gn 16.5.6). Sarai em contrapartida maltrata tanto sua serva Agar, que ela, mesmo grávida e sem ter para onde ir, foge para o deserto.
A Bíblia nos diz que “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (Tg 4.6). A Palavra de Deus é incisiva quando nos mostra que Deus odeia o orgulho e ama a humildade ( Pv. 8.13; 1Pe. 5.5; Lc. 14.11; Mt. 11.29), visto que o orgulho foi o que determinou a queda de Lúcifer em seu intento de ser superior ao próprio Deus.
O orgulho se mostra sorrateiro e enganoso, pois temos dificuldades em conseguir identificá-lo em nosso próprio coração. Todavia, à medida que ele se faz habitar em nós começamos a manifestar os seus frutos, a semelhança de Agar para com sua senhora Sarai.
Alguns dos seus frutos podem ser vistos em nosso desejo de impressionar as outras pessoas, seja através de títulos, bens materiais que venhamos a ter, condições de vida, formações acadêmicas ou profissionais. O orgulho gosta de chamar a atenção para si mesmo, desejando reconhecimento e louvor, preocupa-se excessivamente em causar uma boa impressão.
Outro fruto do orgulho é a crítica e comentários maldosos e a respeito dos outros, sejam pessoas próximas ou familiares. Na fala crítica eu me coloco na posição do outro e defino que eu agiria desta ou daquela forma, que faria diferente, faria melhor. Manifesto uma atitude de superioridade, por me considerar mais maduro, mais sábio.
“Não façais nada por rivalidade nem por orgulho, mas com humildade, e assim cada um considere os outros superiores a si mesmo. Cada um não se preocupe somente com o que é seu, mas também com o que é do outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus.” (Fl 2.3-5)
A história de Agar chega a um ponto de reviravolta agora, em que o Senhor a vê naquele deserto a instrui a retornar para sua senhora e humilhar-se debaixo de suas mãos, Ele ainda demonstra misericórdia para com a sua vida e profere palavras de benção quanto a sua descendência (Gn 16.7-13). Agar nos ensina neste momento a aceitar o conselho e a correção do Senhor, a nos humilharmos diante da Sua poderosa mão e mudar nossa atitude.
Quantas vezes julgamos estar sob um ataque do inimigo ou vivendo situações adversas em nossa vida sem entender o motivo, quando a própria mão do Senhor se opõe aos nossos comportamentos orgulhosos (Tiago 4.6). Que esta seja uma lição para nossa vida, permitir que o Espirito Santo nos mostre aonde podemos estar desagradando ao Senhor e buscá-lo com arrependimento e desejo sincero de mudança, para que possamos ser filhas maduras no Senhor.
A humildade que vem do evangelho brota de um coração que ama. O amor não é orgulhoso (1Cor.13.4), não busca somente seus interesses, não se coloca no centro de todas as coisas ou acha que tudo fala a respeito de si mesmo.
Como o escrito Timothy Keller fala em seu livro Ego Transformado, “Isso porque a essência da humildade resultante do evangelho não é pensar em mim mesmo como se eu fosse mais nem pensar em mim mesmo como se eu fosse menos; é pensar menos em mim mesmo”¹.
Paulo escrevendo aos Romanos toca neste ponto ao dizer: “Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo mais do que convém; mas que pense de si com equilíbrio, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.” (Rm. 12.3)
Que possamos ser convencidas pelo Espírito Santo a nos humilharmos diante do nosso misericordioso e bondoso Deus (1 Pe. 5.6), pois Ele não despreza um coração quebrantado e arrependido (Sl. 51.17). Quando confessamos as nossas atitudes e comportamentos pecaminosos diante do Senhor, Ele é fiel e justo para nos perdoar de todos os nossos pecados e nos purificar de toda a injustiça. Assim podemos continuar nossa jornada com o Pastor das nossas almas, nosso querido Jesus, que nos chama a aprender com Ele a ter um coração manso e humilde.
Referência: KELLER, Timothy. Ego Transformado: a humildade que brota do evangelho e traz a verdadeira alegria / Timothy Keller; tradução de Eulália Pacheco Kregness. São Paulo: Vida Nova, 2014, p.34.

Ana Suzani Senem Ribas
Filha de Deus, Esposa, Mãe de 3 meninos
Formada em Direito, Pós-Graduada em Aconselhamento Pastoral Familiar e Neurociência do Sono Infantil