
Oração de Ester
Ester 4:16 “ Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de dia nem de noite, e eu e as minhas servas também assim jejuaremos. E assim irei ter com o rei, ainda que não seja segundo a lei; e se perecer, pereci.”
Livramento: fazer o certo mesmo que haja um custo
A narrativa do livro de Ester remonta ao contexto histórico do reinado de Xerxes (Assuero) sobre a Pérsia.
Durante o reinado do Rei Nabucodonosor, antes de Xerxes, o povo judeu foi levado cativo para a Babilônia, e após a ascensão do Império Persa, foram permitidos retornar para Jerusalém, mas muitos permaneceram, constituindo uma comunidade judaica considerável.
O livro de Ester revela esperança e ação da providência divina trazendo lições valiosas que continuam a inspirar e orientar nossa vida até hoje.
Ao invés de iniciarmos pelo banquete promovido pelo rei e pela recusa de Vasti, começaremos por um personagem cuja presença mudou radicalmente o rumo da história: Hamã, descendente de Agague, rei dos Amalequitas, arquitetou um plano diabólico para exterminar os judeus diante da negativa de Mardoqueu, um judeu da tribo de Benjamin que devido a sua crença religiosa que proibia a adoração a outros deuses, não se curvou diante dele.
Seu plano era enforcar Mardoqueu!
Deus permite que planos cruéis sejam construídos ao nosso redor mas Ele sempre nos dará escape, nos dará livramento e não, não como o dito popular, mais cedo ou mais tarde e sim no momento Dele, porque sabe o que e quando é melhor para nós.
Hamã era um ministro próximo ao rei, cargo de alta confiança, poderoso e respeitado, no entanto por trás dessa posição, escondia-se uma personalidade dominadora, orgulhosa, ardilosa, traiçoeira e movida pelo ego. Indivíduos assim buscam controle excessivo sobre situações e pessoas a fim de lidar com suas próprias inseguranças e medos. Ele desejava glória, reconhecimento e submissão.
Quando Mardoqueu, um homem justo, se recusou a se prostar diante dele, Hamã não apenas se sentiu ofendido, ele reagiu com fúria e sede de vingança. Seu plano não era só puni-lo mas exterminar todo o povo judeu. Com extrema maldade, fruto de um coração corrompido pelo orgulho, pela busca desenfreada por poder, controle da situação, retaliação, considerando ser melhor e dono da razão.
Mardoqueu, primo de Ester, descobre a conspiração de Hamã para exterminar todo o povo judeu e a alerta.
Ester era judia, órfã e foi criada por seu primo Mardoqueu, ela era uma mulher sábia, temente, corajosa e sensível ao propósito que lhe foi confiado. Mesmo sem que o nome de Deus seja mencionado no livro, Sua providência é percebida em cada detalhe. Ele permitiu em tempo oportuno colocá-la no lugar certo, sendo instrumento para que seus propósitos fossem cumpridos.
A fé de Ester não estava baseada em aparências ou estratégias humanas, mas na certeza de que Deus podia mudar todas as coisas.
Diante dessa ameaça, Ester se levanta, entende que a solução não estava nela mesma, nem no jejum isolado, mas Naquele a quem sempre podemos recorrer: Deus.
Com ousadia, coragem e confiança, ela convoca um jejum. A prática do jejum e oração são caminhos para se aproximar de Deus alcançando maior sensibilidade e clareza. Deste modo, fortalecida espiritualmente, com sabedoria e discernimento dados por Ele, se apresenta diante do rei, buscando reverter a ordem que havia sido influenciada por Hamã, uma ordem que decretava a morte de todo o seu povo.
A história de Ester nos ensina que há um caminho de humildade, oração, intercessão, jejum, confiança que gera vitória. Haverá livramento fazendo o certo, mesmo que haja um custo, sempre haverá escape para os filhos de Deus.
Em oposição, a história de Hamã, nos ensina um caminho que não devemos trilhar, o caminho de orgulho, ego, maldade, que muitas vezes, nas nossas lentes, nem parece tão errado assim, pois achamos que estamos com a razão mas que no fim leva a ruína.
Como filhos de Deus, cristãos, jamais podemos permitir que desejos como esses encontrem guarida em nossos corações. Mesmo que de forma sutil, sentimentos como inveja, ciúmes, orgulho, desejo de vingança, ou a vontade de se sobrepor ao outro, seja no ambiente familiar, nos relacionamentos, nas amizades, no trabalho ou até dentro da igreja, são sementes perigosas que, se não forem tratadas, geram frutos amargos.
Mas como lemos em Jó 5:13 “Ele apanha os sábios na sua própria astúcia”
A história de Hamã, nos alerta sobre os riscos de alimentar o ego em detrimento do próximo. Sua armadilha, construída com arrogância e malícia, se voltou contra ele mesmo. A forca que preparou para matar Mardoqueu, foi usada para sua própria morte. Não que devamos desejar a morte de alguém mal, nunca, mas sim a salvação.
Em Ezequiel 18:23 está escrito “Acaso, tenho eu prazer na morte do ímpio? — diz o Senhor DEUS. Não desejo antes que se converta dos seus maus caminhos e viva?”.
Em 2 Pedro 3:9 “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.”
Mas também aprendemos com Paulo, em Gálatas 6:7, ele nos ensina princípios espirituais que não falham, como o da semeadura: “Tudo o que o homem semear, isso também colherá”. O mal que desejamos ou tramamos contra o outro, ainda que em silêncio ou pensamento, volta sobre nós. Deus é justo, e ELE age no tempo certo.
Provérbios (Pv)11:18 “O perverso trabalha em uma obra enganosa, mas para o que semeia justiça haverá recompensa certa; Pv 11:20 “Abominação ao Senhor são aqueles que são perversos de coração, mas os justos em seu caminho são seu deleite; Pv 11:23 “O desejo dos justos é somente o bem, mas a expectativa dos perversos é a ira; Pv 11:27 “Aquele que diligentemente busca o bem, procura o favor, mas o que busca o dano, esse lhe sobreviverá.
Nesses últimos dias estamos cercados de muita maldade, percebemos que a profecia dita por Paulo em sua carta a Timóteo 3:2 está se cumprindo “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus”
Percebemos também, através do texto bíblico, que Ester era agradável a todos ao seu redor. Isso nos leva a uma pergunta importante:
Como tem sido o nosso testemunho?
Será que estamos sendo agradáveis aos que convivem conosco diariamente, especialmente os de casa? Temos renunciado ao nosso ego, à nossa vontade de justiça com as próprias mãos?
Ou será que estamos deixando nosso amor próprio, ferido falar mais alto, alimentando pensamentos como:
“Ele(a) tem que pagar pelo que fez, tem que sofrer, tem que sentir na pele o que eu senti!”
Concluindo, aprendemos com Ester, que o chamado de Deus para nós é outro: sempre recorrer a Ele, o único que pode todas as coisas, a justiça é Dele, haverá livramento para os que são chamados de Filhos, fazer o certo mesmo que haja custo e seguir mantendo o coração limpo.
Não desejar o mal ao próximo, nem agir com vingança, nem orar com o coração contaminado pelo ego esperando que alguém “pague” só para satisfazer a nossa vontade.
Romanos 12:19 “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor.”
Lucas 23:34 “Mesmo quando somos feridos e injustiçados, nossa oração deve ser como a de Jesus na cruz: “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem…”
O verdadeiro evangelho nos chama a renunciar a justiça própria e confiar na justiça divina. Se for da vontade de Deus que haja retribuição, que Ele o faça. Mas se a vontade Dele for salvar, restaurar e dar uma nova chance àquele que nos feriu, que nosso coração esteja em paz e se alegre com isso também.
Porque a vitória verdadeira não está em ver o outro pagar, mas em permanecer em paz com Deus e com nossa própria consciência.
Que Deus guarde nosso coração de toda inimizade e porfias, que possamos ter um coração tão moldado pelo Espírito Santo que, mesmo sofrendo, escolhamos a paz, o perdão e a obediência à vontade de Deus, seja ela qual for.
Porque, no fim, não é sobre o que sentimos, mas sobre quem somos em Cristo. E quem é de Cristo, perdoa, ora, ama e segue em paz.
Romanos 12:18 “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens.”
Mateus 5:9 “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.”

Karina Bittencourt
Bacharel em Teologia;
Dirigente do Círculo de Oração do Templo Sede IEADJO;
Coordenadora do Discipulado Feminino IEADJO e discipuladora.