
Como apoiar mães de crianças autistas?
“Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos da sua própria família, negou a fé e é pior que um infiel.” (1Tm 5.8)
O versículo acima é uma afirmação do apóstolo Paulo, quando fala a respeito das viúvas da igreja que devem ser cuidadas e acolhidas pelos seus familiares e pela igreja.
Um detalhe nos chama atenção nos versículos seguintes, ele apresenta essas viúvas como pessoas frágeis e em situação de vulnerabilidade, desprovidas de cuidados e esquecidas até pelos mais próximos.
O que isso tem a ver com mães de filhos autistas?
É sobre esse tipo de cuidado que se precisa refletir, expor sua carência em outros âmbitos da família e da igreja. Esse versículo se encaixa bem na necessidade de uma rede de cuidado para as mães de crianças autistas.
É sabido que a maternidade não é uma tarefa fácil, criar os filhos com sabedoria exige muita renúncia, em especial das mães. Há sobre elas uma responsabilidade gigantesca, desde prover o primeiro alimento que a criança irá consumir, o leite materno, até conduzi-la na vida enquanto a mesma desenvolve a autonomia.
Já ouvi algumas mães relatando o quanto gostariam de ter recebido um manual de instrução ao ter o bebê, pois, por mais que tenham conhecimento, exemplo e leituras sobre a criação de uma nova vida, nunca é suficiente diante das surpresas diárias da maternidade. Agora imagine a mãe de uma criança autista.
O autismo é um transtorno global do desenvolvimento, caracterizado por alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação, por um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo.
É considerado uma deficiência de acordo com a Lei nº 12.764/12 que foi promulgada instituindo assim a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pessoas portadoras do Transtorno do Espectro Autista, estabelecendo direitos como a integridade física e moral, a inclusão social, resguardando a igualdade e a dignidade da pessoa humana.
A mãe de uma criança diagnosticada, um dia foi uma gestante cheia de planos que esperava um bebê com saúde e sabia que haveriam desafios naturais, mas após o nascimento, ainda na primeira infância, percebe-se algumas características diferenciadas e logo que recebe o laudo da neuropediatra, se dá conta que há algo mais desafiador.
Quem nunca ouviu a famosa frase: “o importante é ter saúde, não importa se é menino ou menina…”. Querendo admitir ou não, esse pensamento é muito mais forte do que uma frase dita ao vento, afinal quando nasce todos esperam o desenvolvimento daquele ser, imaginando quando a criança vai falar, quando vai andar, como vai interagir com os pares.
Essa mãe sofre muitas vezes pela quebra dessas expectativas, por causa do isolamento e falta de apoio, que, em alguns momentos, vem embrulhada em um rótulo de guerreira, como quem diz que ela vai suportar. De fato, “Deus não nos prova além das nossas forças”, e, esse versículo poderia ser usado aqui muito bem, entretanto há um litígio mais profundo, é o cuidado com a mãe que essa causa pede.
Quando nos colocamos no lugar da mãe que sofre com a deficiência do filho e seus desafios diários na rotina frenética de terapias e atendimentos médicos, percebemos que essas mães lidam com uma sobrecarga emocional e diferenciada, então vamos pensar em como podemos ajudar…
Antes de mais nada, evite comentários sobre o diagnóstico da criança, a menos que parta da mãe e caiba suas considerações. Tenha cuidado ao sugerir algum tipo de correção para a criança, deixando subentender que a mãe não está sabendo educar ou impor limites.
Não faça comentários sobre a criança na presença da mesma, por mais que pareça estar distraída, a criança pode entender que estão falando dela. Não faça caras e bocas ou olhares de reprovação para a criança e nem para a mãe.
Se vir uma mãe corrigindo e orientando ou até mesmo acalmando seu filho, não a desautorize, pois isso pode gerar inclusive quebra de rotina e resultar em problemas ainda maiores.
Evite rotular as crianças autistas, se um dia você conheceu uma que não gosta de contato físico, saiba que nem todas são assim. Não indique remédios milagrosos, nem tão pouco terapias alternativas.
Ainda na intenção de ajudar, caso você tenha proximidade com a mãe, se coloque à disposição para auxiliar em alguma tarefa doméstica enquanto ela dá atenção à criança.
Quando for ao supermercado, se ofereça para trazer algum produto que ela esteja precisando e, se você tem filhos com idade compatível chame o filho dela para brincar com os seus, sob sua supervisão, enquanto ela pode ter um tempo sozinha com o esposo, ir a um salão de beleza ou até mesmo tomar um banho mais demorado.
Caso tenha um evento de mulheres, convide-a para ir e ajude a encontrar uma maneira da criança ficar segura enquanto ela pode aproveitar o momento.
O mais importante de tudo isso é ter bom senso e lembrar que devemos nos colocar no lugar do outro, a Bíblia diz no livro de Mateus 7.12: “Portanto, tudo quanto quereis que as pessoas vos façam, assim fazei-o a vós também a elas, pois esta é a Lei e os profetas”.
Com esse ensino de Jesus podemos aplicar o contrário também, faça aos outros o que você gostaria que fizessem contigo. Esse artigo começou com uma pergunta e será concluído com outra pergunta, pense sempre: E se a mãe fosse eu?

Thayza Araújo
Pedagoga, especialista em psicopedagogia. Teóloga, especialista em discipulado e cuidado. Linguista, mestranda em Letras/UFSC. Professora da Rede Estadual de Ensino e responsável pelo segmento de ensino da UFADVILLE, virtuosamente.com e esposa de pastor setorial.