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Superando o luto na maternidade

Superando o luto na maternidade

O Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor. Jó 1:21b

Eu e meu esposo estávamos vivendo um tempo de novidades. Depois de dois anos e meio de casados, assumimos, como missionários, o cuidado de uma igreja em um cidadezinha de Santa Catarina chamada Frei Rogério. Antes da mudança recebemos uma palavra de que ali seria a olaria do Senhor nas nossas vidas, e de fato, essa palavra se cumpriu.

Já nos primeiros dias morando nessa cidade, descobrimos a gravidez, nosso primeiro filho estava a caminho. Tive alguns problemas no início, descolamento de placenta, mas com repouso e cuidado logo estava tudo bem e segundo os médicos, não precisaríamos mais nos preocupar. Porém no sexto mês de gestação, com 28 semanas, um dia acordei com dores, esse dia era justamente o dia da consulta agendada do posto de saúde local. O médico não chegou a me examinar, apenas disse que ter dores era normal e que eu repousasse um pouco.

Fiz o que ele disse, passei o dia deitada, mas a dor não passava, à noite eu percebi que as dores aumentaram, então fui ao banheiro quando percebi um pequeno sangramento. Depressa nos dirigimos ao hospital da cidade vizinha, mas no caminho percebi que aquelas dores aumentavam e diminuíam de tempo em tempo, só então pensei que pudessem ser contrações, então fiquei desesperada.

Chegando ao hospital, o que era medo, se tornou real. Eu estava realmente em trabalho de parto, eles tentaram frear o processo, mas mesmo assim no outro dia nasceu o nosso Samuel, era dia 30/01/2008 um dia depois do nosso aniversário de 3 anos de casamento.

Ele era tão pequeno, tão frágil e eu me apaixonei no primeiro instante, porém eu não pude pegá-lo no colo, ele foi direto para a UTI Neonatal. Os primeiros contatos com ele foi por meio de buracos na incubadora, os médicos nos encheram de esperança, dizendo que ele era forte e logo sairia dali. Sempre que permitido eu estava com ele, contava histórias da bíblia e cantava baixinho louvores pra ele ouvir, foram cinco dias de alegria.

No quinto dia, o médico nos chamou muito preocupado pra nos dar a notícia, que ele tinha contraído uma infecção hospitalar e que era muito sério. Eu não entendi direito a gravidade daquilo, achei que logo ficaria bom, mas os dias foram passando e muitos problemas foram se acumulando, além de os remédios não faziam efeito.

Eu não conseguia aceitar o fato de que talvez Deus quisesse recolher nosso pequeno bebê, fiz todas as orações possíveis e cria que ele ficaria bom. Meu esposo veio nos ver e falou pra mim que precisávamos estar prontos caso o Senhor quisesse recolher ele, choramos muito naquela tarde. No período da noite eu estava na UTI com o Samuel e quando eu toquei nele, ele se encolheu, a enfermeira estava perto e me disse que ele fazia aquilo por que estava com dor. Aquilo partiu meu coração, foi então que eu consegui fazer a única oração que ainda não tinha conseguido fazer: a oração de entrega. Pedi a Jesus que Ele passasse naquela UTI naquela noite, e eu queria ter certeza de que Ele passaria ali, que fizesse a vontade Dele, seja para curá-lo ou para levá-lo. A oração mais difícil da minha vida.

Fui deitar, e no primeiro cochilo uma enfermeira me chamou: Mãezinha do Samuel! Levantei e vi que a notícia não era boa, Jesus tinha passado na UTI e levado meu filho com Ele. Pedi para vê-lo e eles permitiram, foi a primeira vez que segurei meu bebê no colo, sem os aparelhos, mas ele não estava mais ali, orei mais uma vez ao Senhor entregando meu filho.

No momento do enterro, eu olhava para aquele pequeno caixão branco e só conseguia pensar que ele não estava mais sentindo dor, e que ele seria mais um motivo para eu querer chegar no céu. Foi nos dada a oportunidade de dizer algo naquele momento e meu esposo conseguiu recitar a pequena parte do versículo de Jó, “Deus nos deu, Deus tomou”, ele não conseguindo mais falar, eu completei: “Bendito seja o nome do Senhor!”

Eu convivi com meu filho durante onze dias, vou lembrar pra sempre daquele rostinho e daquelas mãozinhas, eu o amei e amo com todas as minhas forças. Meu primogênito está com o Senhor.

Os dias que se seguiram foram sim de muitas lágrimas, de muitas orações clamando o consolo do Pai, e não foram poucas as vezes em que me sentia literalmente no colo do Senhor sendo consolada por Ele. Meu esposo foi um gigante, que tantas vezes calou a própria dor para me consolar. Ele tinha sempre um lenço nas mãos pra enxugar minhas lágrimas, o Espírito Santo usou ele pra me fortalecer, isso nos uniu ainda mais, tornou nosso amor mais sólido e maduro.

Na olaria do Senhor fomos quebrados, mas o vaso estava nas mãos do oleiro e Ele faz de novo. Naqueles dias li o livro de Jó, agora com um olhar diferente, de alguém que sofria como Jó por ter perdido o que amava. Dois anos se passaram, já estávamos em outra cidade, eu tinha um desejo enorme de ter outro filho, estava com muita dificuldade para engravidar devido a alguns problemas de saúde, mas não cessava de clamar, até que um dia a notícia veio.

Corri para o médico, pra tomar todo o cuidado possível. Na primeira ultrassom a notícia que mais trouxe alegria para as nossas vidas, eu estava esperando gêmeos, nosso coração transbordou de felicidade. Deus falou que cuidaria de tudo, supriria tudo e hoje meus gêmeos, Isaque e Natan, já são adolescentes. O Senhor tem nos surpreendido com seu cuidado desde o nascimento, nasceram no tempo certo, cheios de saúde e de vida.

O livro de Jó acaba dizendo que o Senhor deu em dobro tudo o que Jó tinha antes, eu sei que o fato de Deus ter nos dado gêmeos, é a resposta para a nossa resposta de fé no meio da dor.

O momento de luto é momento de nos achegarmos ainda mais a Deus, Ele vai nos fortalecendo e nos dando esperança de um futuro. A dor de perder um filho é imensa, independente da idade, seja bebê, seja no ventre ou adulto a saudade continua, mas o consolo do Senhor é maior. Se você está passando por algo parecido clame ao consolador que Ele virá.

Por,

Josiane Ruthes
4ª Coordenadora da UFADVILLE;
Integrante da Comunicação da UFADVILLE;
Professora do curso Preciosas;
Discipuladora e palestrante.