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Superando o perfeccionismo tóxico

Superando o perfeccionismo tóxico

Então, ele me disse: “A minha graça te basta, porque o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.” II Coríntios 12:9

O perfeccionismo é a junção da palavra “perfeição” (qualidade ou caráter de perfeito; executado em teor elevado de excelência; com ausência de quaisquer defeitos ou falhas) com o sufixo “-ismo” (doutrina, sistema, teoria, tendência, corrente; usado no plural, tem sentido pejorativo).

Seu significado pode ser interpretado como uma tendência elevada de se obstinar a fazer coisas com perfeição e/ou o princípio de um sistema moral que consiste em atingir a perfeição. A toxicidade desse comportamento surge no momento em que a busca pela perfeição se torna um veneno para o praticante e para os que o rodeiam. Denominamos esse comportamento de “perfeccionismo tóxico”.

Você já conheceu alguém para quem nada do que é feito está perfeito ou nada é suficiente? Não nos referimos aqui ao comportamento de desenvolver tarefas, ações, serviços, autocuidado ou cuidados de saúde com excelência, buscando a perfeição. Até porque a busca por excelência agrada ao Senhor. O apóstolo Paulo explica em sua carta aos Colossenses, capítulo 3, verso 23: “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens.” O ensino é claro: devemos fazer para agradar a Deus e não aos homens.

Ao desenvolver tarefas como se fosse para Deus, a busca pela excelência está inserida nesse comportamento. De fato, tudo o que te pedirem para fazer, faça bem feito, conforme as tuas forças (Eclesiastes 9:10). Quando fazemos bem feito, com excelência, como se fosse para o Senhor, percebemos que o trabalho se torna leve, prazeroso, e todos os que estão envolvidos nessa tarefa sentem alegria em desempenhar sua função.

Tenho para mim que o próprio Deus recebe esse esforço como uma oferta agradável, pois Ele entende o limite de nossas forças. Mesmo que aos olhos dos outros não seja “perfeito”, Ele se agrada. É como um pai que recebe um desenho de uma criança pequena que fez alguns rabiscos e diz: “Papai, desenhei você.” Esse pai é capaz de emoldurar ou pendurar na geladeira para todos verem o retrato feito por seu filhinho.

O perfeccionismo tóxico, por sua vez, é prejudicial porque é como um veneno. Ele produz efeitos nocivos para o organismo de quem o pratica e para os que estão ao seu redor. Por isso, questionamos se você conhece alguém para quem nada está perfeito ou nada é suficiente. Esse comportamento tem um viés de buscar agradar as pessoas ao redor. Como cada pessoa é diferente uma da outra, as exigências de agradabilidade variam, e o padrão daquele ou daquela que vive para desenvolver tarefas para agradar a todos é muito alto, praticamente inatingível.

Esse ato de exigir perfeição de forma exagerada torna-se tóxico para quem o pratica e para os que estão ao redor, pois o padrão de exigência é praticamente sobre-humano. Não há respeito pelos próprios limites nem pelos limites dos outros. Perceba que as pessoas são diferentes, com personalidades, estruturas físicas e formações culturais diversas. O respeito às habilidades e à velocidade que o próprio Deus colocou em cada um é fundamental para o desenvolvimento de atividades em grupo. Nesse sentido, amo os artigos aqui escritos, pois a cada publicação há mais e mais ensinamentos sobre essa variedade de características que Deus colocou em cada um de nós.

A toxicidade do comportamento perfeccionista é caracterizada pelo grau de “toxinas” que ele produz. Vou explicar: pessoas perfeccionistas também tendem a ser críticas consigo mesmas e com os outros. A toxicidade está presente quando esse nível de crítica é altíssimo e não há respeito pelos limites dos outros, o que pode prejudicar os relacionamentos.

A dificuldade de desenvolver atividades em grupo é um dos efeitos do comportamento perfeccionista tóxico. Outra toxina visível nesse comportamento é a procrastinação, que leva à perda de produtividade. Isso ocorre porque essas pessoas, ou as que convivem com o perfeccionista tóxico, tendem a hesitar em iniciar ou concluir tarefas por medo de não atender aos seus padrões elevados ou ao padrão elevado do perfeccionista tóxico. O medo é paralisante, como afirma David Kornfield.

Existem outras toxinas, como a produção de estresse. A tensão causada pelo nível de exigência desse comportamento gera no corpo humano uma produção elevada do hormônio cortisol, que, quando produzido em alta quantidade, pode desencadear diversas doenças no corpo de quem pratica esse comportamento e no corpo de quem convive com pessoas que desenvolvem essas atitudes.

Para superar o perfeccionismo tóxico, com carinho, listamos alguns passos para você:

Autoconhecimento: O primeiro passo para superar o perfeccionismo tóxico é o autoconhecimento. Ao fazer uma avaliação sobre o próprio comportamento, você perceberá como o perfeccionismo tóxico afeta sua vida com a família, amigos, colegas de trabalho, ministério e consigo mesmo. A auto avaliação traz inúmeras vantagens e vai muito além da superação da busca incessante pela perfeição. Você perceberá que, pelo simples fato de identificar o perfeccionismo tóxico, seu nível de exigência consigo será alterado e seu desempenho será majorado. É importante exigir menos de si mesmo e enxergar mais pontos positivos do que negativos para o seu desenvolvimento.

Definir prioridades: O segundo passo é definir prioridades. É muito importante reconhecer que nem todas as tarefas exigem o mesmo nível de perfeição. Por isso, a dica é priorizar as tarefas, tanto para você quanto para sua equipe (se for o caso), dedicando mais tempo e energia às que realmente precisam de atenção detalhada e deixando outras com padrões mais flexíveis. Evite a sobrecarga de tarefas, projetos e responsabilidades. Aprenda a dizer “não” quando necessário. Definir limites é fundamental para sua saúde e para a saúde dos que estão ao seu redor.

Metas realistas: O terceiro passo é estabelecer metas realistas. Em vez de buscar a perfeição em todas as tarefas, o profissional deve definir metas realistas e alcançáveis para seus projetos e responsabilidades. Isso ajuda a reduzir a pressão colocada sobre si mesmo e, por consequência, diminui o estresse e a ansiedade.

Prazos alcançáveis: O quarto passo é estabelecer prazos alcançáveis. É muito pertinente que você defina e siga prazos para as suas tarefas e projetos. Uma grande inimiga das tarefas executadas com excelência é a procrastinação, que ocorre quando a pessoa assume tarefas demais ou prazos irrealizáveis, apenas para agradar os outros ou porque não sabia dizer “não”. Esse comportamento a leva a adiar o início de uma tarefa ou não a executar. Assim, montar uma tabela com tarefas e prazos e usar agendas podem auxiliá-lo muito no combate a esse efeito negativo.

Aceitação pessoal: O quinto passo é se aceitar. É preciso reconhecer que a perfeição absoluta é raramente alcançável e que é normal cometer erros e ter áreas de melhoria. Entender essas imperfeições como oportunidades de aprendizado pode ser um ponto de partida para o seu desenvolvimento pessoal.

Autocrítica equilibrada: O sexto passo é criticar-se menos. É importante ter gentileza e compaixão consigo mesmo. Ame a obra-prima que Deus fez: você. Diminua a autocrítica e valorize suas qualidades. Seja mais tolerante consigo mesmo. A crítica constante envia mensagens ao seu cérebro de que algo não está certo, e ele começa a combater o que não está certo. Por isso, algumas pessoas desenvolvem doenças autoimunes. Confiando na graça do Senhor e aceitando-se, você impede diversos efeitos negativos à saúde mental.

Gerenciamento de tempo: O sétimo passo é gerenciar bem seu tempo. Busque aprimorar as habilidades de gerenciamento de tempo para ser mais eficiente nas tarefas e projetos. Isso pode ser uma dica relevante na superação do perfeccionismo tóxico, pois o planejamento adequado pode reduzir a necessidade de perfeição em cima da hora. Está escrito em Eclesiastes 3:1: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.”

Aprendizado constante: O oitavo passo é desenvolver o aprendizado constante. Busque aperfeiçoar-se. Para superar esse comportamento tóxico, é relevante reconhecer a importância do aprendizado contínuo. Fazer um curso técnico para melhorar sua técnica no trabalho ou um curso de autoconhecimento, como o “Preciosas, Mulher Única”, pode ser uma ótima opção para ajudá-la a ficar mais segura e a desenvolver as habilidades que o próprio Senhor colocou em você.

Como dito, devemos sim desenvolver obras com excelência, que agradem ao nosso Senhor. A busca por agradar a Deus deve ser uma constante para homens e mulheres cristãos. Jesus Cristo, no conhecido Sermão do Monte, disse: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5:48). Ele estava se referindo a uma série de condutas que Seus seguidores deveriam desenvolver para agradar a Deus, e não aos homens. Nisso está a satisfação plena.

Os padrões que o mundo impõe ou que você mesmo se auto define são tóxicos quando não estão alinhados aos padrões de Deus. Por isso, nossa excelência é conhecer a Cristo; Ele foi e é perfeito.

“E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Filipenses 3:8).

O melhor remédio para o perfeccionismo tóxico ainda é a graça do Senhor, pois é ela que aperfeiçoa nossas limitações. O apóstolo Paulo ensina ao povo de Corinto: “Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (II Coríntios 12:9).

Desfrute dessa graça maravilhosa, respeite suas limitações, busque agradar ao Senhor, e sobre você repousará a paz que vem do poder de Cristo.

Por,

Lucieny Ojeda
Advogada, Professora Universitária, Discipuladora, Preletora da Palavra de Deus, Membro do Templo Sede IEADJO/SC;