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Supremo é o dom da vida

Supremo é o dom da vida

O sopro da vida nos foi dado pelo Criador, e se respiramos hoje, enquanto lemos este artigo, é porque Ele respirou em nós primeiro (Gn 2.7). Neste sentido, o aborto é assassinato. Sem vacilar, nossa posição bíblica deve permanecer firme no eterno mandamento “não matarás” (Ex 20.13); porque, na concepção essencial, a alma bem como o seu corpo, são transmitidos por geração natural, um ser humano integral está presente no útero a partir da concepção. “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz subir” (1 Sm 2.6). Nossa vida não é sobre “nós”, mas é tudo sobre Ele. Ter um filho e acompanhar o crescimento de uma vida é um privilégio e uma responsabilidade maravilhosa.

Na contramão dessa verdade, acompanhamos inúmeras discussões sobre o aborto, pois o STF (Supremo Tribunal Federal) caminha na direção de descriminalizá-lo até a 12ª semana de gestação. Sabemos que em alguns casos pode ocorrer o aborto espontâneo, isso é, não provocado pela mulher ou por qualquer procedimento; neste caso não há intenção na perda da gestação, mas quando falamos do aborto provocado, falamos de assassinato, um crime grave contra a vida. O assassinato é condenado pela Palavra desde o início na Escrituras e claramente em seus mandamentos, preceitos e ordenanças. Em contrapartida temos a declaração recorrente da bênção que significa gerar uma criança (Gn 33.5; Sl 127.3; Gn 30.22; Sl 113.9, I Sm I.19-20), do milagre da vida, protegido por nossa Constituição Federal.

Sendo cristã defendo o direito absoluto à vida em todas as circunstâncias, mas nossa legislação permite o aborto em três situações: quando a gestação é resultado de violência sexual (bastando o relato da mulher), quando há risco de vida da gestante e nos casos de anencefalia (quando o feto não tem cérebro). Aponto essas informações apenas para desmistificar os que procuram justificar o amplo e absoluto direito ao aborto, uma vez que não existem razões para aumentar o escopo destas exceções em nosso país. E que fique claro: não é por que algo é legal que é moral! Não ser crime, mesmo em situações tão delicadas, não significa não ser pecado!

Não é porque uma lei permite em determinadas circunstâncias o aborto, que como cristãos apoiamos essa ação. Nos importa antes obedecer a lei de Deus do que a lei dos homens (At 5.29). Em meio às mudanças culturais e legais, é imperativo discernir a voz eterna da consciência moral que ecoa as verdades imutáveis do Criador. Assim, mesmo quando as sociedades se desviam, permitindo ações que são legalmente aceitáveis, mas moralmente reprováveis, o cristão deve permanecer firmemente ancorado nos princípios divinos.

Precisamos nos posicionar, não podemos nos omitir! Ao relativizar o valor da vida de alguém, a gente perde a grandeza de nossa própria humanidade, pois toda vida importa, do ventre ao último suspiro. O autor da vida é Deus, ela começa na concepção, e não existe justificativa que nos autorize dispor da vida de uma outra pessoa, ainda que ela seja apenas um feto de 12 semanas. Nessa idade ele já mede em torno de 6 centímetros, os órgãos internos começam a trabalhar sob uma fina pele. Mas eles existem, entretecidos pelo Senhor no ventre da sua mãe, com o propósito de viver para conhecer a Deus e fazê-lo conhecido, como cada um de nós foi (Sl 139.13-16)!

O feto não é apenas um amontoado de células, é o milagre da vida sendo gestado. Já fomos assim frágeis, dependentes, delicados, em momento de processos cruciais da existência, indefesos, sem voz. Não podemos usar a que temos hoje para calar a deles – mas pelo contrário, devemos usar a vida que “herdamos” deste feto e embrião, para honrá-los e com toda a força e poder, protegê-los!

Parafraseando uma expressão muito usada nestes debates, quem está vivo não tem “lugar de fala” para decidir e executar a morte de um inocente, pois todos ganhamos por misericórdia do Criador a cada dia o dom da vida. Jesus ama as crianças, e o diabo as odeia. Não há forma mais suave de falar desta verdade. Aos poucos a infância tem sido sequestrada pela ausência do cuidado dos seus pais, terceirizada para eletrônicos, cooptada por movimentos ideológicos, e agora “entregues ao fim no seu começo” por legisladores e defensores desta cultura da morte. A igreja deve erguer sua voz e proteger a vida!

Num mundo vasto de incertezas e turbulências, há mulheres que, diante do inesperado da existência, em uma gravidez não planejada, acolhem a vida. Enfrentam tempestades silenciosas, adaptam-se a novos rumos e, muitas vezes sem mãos amigas ou o amparo paterno, envolvem suas vidas num amor que transcende a compreensão. A vida, em seus caprichos, não deveria reservar tamanha solidão, mas é uma realidade cotidiana. Enquanto navegamos no mar da responsabilidade que cada ser tem sobre sua existência, nas entrelinhas da sexualidade e da reprodução, temos a benção dos recursos que protegem ambos, mãe e filho.

A ciência e a sociedade avançam com métodos contraceptivos e uma visão mais abrangente do planejamento familiar. No entanto, quando o destino pede uma escolha dolorosa e a mãe sente que não pode permanecer com seu filho, a adoção emerge como um farol de esperança. O diálogo sobre a adoção deve reverberar com mais força, em compreensão e sem julgamento. Garantir o sigilo, honrar a vida e acolher aquelas gravidezes que nasceram do inesperado é nossa missão coletiva.

Há lares ansiando, há braços estendidos aguardando para envolver essa criança em amor. E mesmo que mantenham da decisão da doação da criança, aqui existe a possibilidade futura de ressignificarem, isso é parte da misericórdia de Deus por nós! Já acompanhei histórias emocionantes de mães e filhos que se reencontraram, perdoaram e reescreveram sua história depois de muitos anos.

Assim, à mulher diante de uma encruzilhada não planejada, é vital lembrar que as decisões tomadas ecoarão no âmago de sua alma. Muitas carregam seus segredos como pesos invisíveis, especialmente quando seus ecos ressoam em corredores sagrados. Familiares podem permanecer alheios a tal segredo, fazendo com que as cicatrizes emocionais do aborto fiquem latentes, um eco silencioso que reverbera ao longo dos anos, tornando-se uma ferida profunda no tecido da existência.

Por fim, este tema deve ser pensado e tratado sob todos os ângulos, sendo alguns pouco destacados, mas essenciais ao aprofundamento, quais sejam: o papel de acolhimento profissional da igreja a esta mulher em dificuldade ou com dúvida em sua gestação;  o aconselhamento especializado pós-aborto a esta mulher, onde se deve enfatizar tanto a natureza hedionda do pecado quanto o perdão gracioso que Deus concede àqueles que estão verdadeiramente arrependidos; e por último mas essencialmente importante, ao se tratar a mulher envolvida no ato, trazer a luz o homem que provocou a concepção e a morte da criança. Se ele concordou com o aborto, ou se omitiu, é tão responsável quanto ela.

Meu corpo minhas regras é um slogan que não nos pertence pois “o nosso corpo não é nosso”, mas Dele, e as regras também! É o templo do Espírito Santo de Deus (I Co 6.19) que habita em nós e também habita na vida que geramos. O aborto não apaga a violência sofrida, não permite ressignificar, não permite recomeços. Mas as misericórdias de Deus se renovam sobre aqueles que Nele esperam. A infância é frágil, precisamos zelar por ela com o amor e o cuidado que Ele nos ensina pela  Sua Palavra (Mt 18.1-6).

 

Referências:

– Jay E. Adams, “Abortion”, in The Practical Encyclopedia of Christian Counseling (Cordova, TN: Institute for Nouthetic Studies, 2020), 2.

– Tim Clinton e Diane Langberg, The Quick-Reference Guide to Counseling Women (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2011), 17–19.

– Grau, Eros Roberto. “Juízes que fazem as próprias leis”. Disponível em <https://www.jusbrasil.com.br/noticias/juizes-que-fazem-as-suas-proprias-leis/414577832> acesso em 27/09/23.

Por,

Dra. Tatiana de Andrade Lemos
Esposa de Pastor;
Médica/Pediatra;
Pregadora e Palestrante.
Instagram: @dratatilemos